Sinônimo de vinhos italianos em todo o mundo, a palavra Chianti costuma causar confusão àqueles que visitam a Toscana pela primeira vez.

Afinal, Chianti é um vinho?
Um tipo de uva?
Uma cidade?
Uma região?

Sim, não, não, sim.

Confuso? Ok, vou explicar melhor…

História

A palavra Chianti, palavra de origem etrusca que quer dizer “água” e é também um sobrenome etrusco, descreve a área de colinas suaves, com solo seco e rochoso, entre as cidades de Florença e Siena.

Essa área, alvo de inúmeras disputas ao longo da história, é conhecida há muito tempo pela sua excelência na produção de vinhos tintos e de azeite extra-virgem de oliva, partes integrantes da tradição e da história da Toscana.

Já na Idade Média a zona do Chianti começou a ganhar importância política e econômica e ficar conhecida pela produção de seus vinhos tintos. Tanto que em 1384 Florença decide criar, junto com os vilarejos de Radda, Gaiole e Castellina in Chianti a Liga do Chianti, uma aliança política e militar para defender esses vilarejos dos ataques da cidade de Siena, interessada em conquistar esse frutífero território.

Galo Negro

Daquele momento em diante a área começou a ser representada por um símbolo que persiste até os dias de hoje e que é o símbolo da zona e dos vinhos do Chianti Classico: o galo negro.

E por que um galo negro?

Bom, diz a lenda em 1206, cansadas das intermináveis batalhas entre si, Florença e Siena decidem realizar uma disputa pacífica para determinar suas fronteiras.

A disputa era bem simples: ao cantar do galo deveria partir de cada uma das cidades um cavaleiro em direção à cidade oposta, o ponto de encontro entre os dois cavaleiros seria estabelecido como a fronteira entre as duas cidades. Siena escolheu como despertador para o cavaleiro um galo branco, e o alimentou muito bem, para que o galo cantasse forte e acordasse o cavaleiro.

Já Florença escolheu um galo negro, e o fez passar fome por alguns dias. Resultado: o galo florentino, nervoso e irritadiço, cantou muito mais cedo que o forte e preguiçoso galo de Siena, o que fez com que o cavaleiro de Florença partisse mais cedo e percorresse um percurso muito maior que o seu colega senese, dando portanto uma grande vantagem territorial a Florença, já que na ocasião a fronteira entre as cidades teria sido demarcada a somente 12 quilómetros do centro de Siena e estabelecendo que a maior parte do território do Chianti pertenceria a Florença.

Lendas à parte, a importância de seus vinhos era tanta que até um dos mais inexpressivos grão-duques da família Medici, Cosimo III, instituiu em 1716 a área de 700 quilômetros quadrados para a produção de vinhos do Chianti Clássico.

O Vinho Chianti Classico

Dentro da zona do Chianti existem nove diferentes DOC (Denominação de Origem Controlada) e DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), que são certificações e regras impostas pelo governo e por consórcios para a produção de vinhos em determinada área geográfica.

Essas regras impõem aos produtores os tipos de uvas e suas respectivas porcentagens que podem ser usados para a produção de seus vinhos, além de delimitar a área e a quantidade de produção, a gradação alcóolica e as características organolépticas do produto final. As regras do DOC e o DOCG são muito semelhantes, sendo que a diferença básica entre elas é que um produtor só tem direito a ser DOCG após produzir vinhos DOC de alta qualidade por pelo menos 10 anos consecutivos, o que atesta a altíssima qualidade dos vinhos DOCG.

Dessas 9 áreas a mais importante é conhecida é o Chianti Clássico, área composta pela totalidade dos territórios de Radda, Gaiole, Greve e Castellina in Chianti e partes de outras cidades. É só nessa área que pode ser produzido o vinho Chianti Clássico, aquele que leva no gargalo da garrafa uma etiqueta com um galo negro.

Esse vinho deve ser produzido com pelo menos 80% de uva Sangiovese, a uva típica da Toscana. Além da Sangiovese são permitidas para completar o 100% uvas italianas como a Cannaiolo ou a Colorino e outras uvas internacionais como a Cabernet Sauvignon ou a Merlot desde que produzidas na mesma área geográfica. O Chianti Classico deve envelhecer pelo menos 10 meses à partir do 1º de janeiro do ano seguinte à colheita, se o produtor quiser fazer um vinho Riserva deve envelhece-lo por 2 anos e se preferir fazer um Gran Selezione deve envelhecer por 30 meses. A gradação alcoólica mínima permitida deve ser entre 11,5 e 12%.

O Chianti Clássico é um vinho límpido de um vermelho rubi intenso, é harmônico, seco, tem bons taninos e com o tempo torna-se macio e aveludado, com aromas de violetas, lírios e frutas vermelhas e de especiarias nos vinhos reserva e seleção.O cultivo das uvas vai do início do verão até setembro e a colheita é entre setembro e outubro. Depois disso, durante o inverno europeu, as parreiras ficam secas e desfolhadas, dormentes, esperando pelas chuvas do inverno e da primavera para florir e dar frutos novamente no verão. Uma safra perfeita é resultado de um delicado equilíbrio entre chuvas, vento e sol na medida certa, o que felizmente aconteceu em 2015, considerada uma safra que dará excelentes vinhos em breve.

O Chianti Clássico é um vinho ideal para acompanhar carnes vermelhas grelhadas, como a tradicional Bistecca alla Fiorentina ou o brasileiríssimo churrasco! Para carnes mais refinadas, como carnes de caça, recomenda-se um Chianti Clássico Riserva, mais estruturado. As melhores safras recentes, além da recentíssima 2015, são 2006, 2007 e 2010, mas só se deve comprar vinhos Riserva dessas safras uma vez que os vinhos Chianti Clássico “normais” anteriores a 2010 podem já estar passados.

Dica: Enoteca Imperdível em Greve in Chianti

No meio desse território tão rico de histórias, lindas paisagens e, naturalmente, vinho, encontramos a Enoteca Falorni, uma gigantesca loja de vinhos com mais de 1.000 rótulos diferentes e 13 estações de degustação Enomatic, localizada na cidade de Greve in Chianti. A enoteca pertence ao grupo que inventou a Enomatic, uma máquina para degustação de vinhos que mantém as garrafas de vinho à vácuo e sob temperatura controlada e que serve doses do vinho escolhido quando se insere na máquina um cartão pré-pago ou vinculado ao seu cartão de crédito, um perigo.

Apesar de ser no meio do território do Chianti Clássico, a enoteca não dispõe somente de vinhos dessa região, entre os vinhos disponíveis para degustação e venda encontram-se também brancos e rosés, espumantes, Super Toscanos, vinhos orgânicos, vinhos de Montalcino e de Montepulciano além de uma seleção de “vinhos convidados e de sobremesa”, uma perdição.

Além disso, as máquinas Enomatic servem doses variáveis proporcionais a quanto se paga, de pequenas doses de degustação que custam à partir de € 0,80, à meias taças e taças inteiras, que podem custar até €20 por uma taça do Super Toscano Tignanello, por exemplo. É o lugar ideal para experimentar, gastando-se pouco, vinhos de diversos produtores e safras, enfim, um verdadeiro parque de diversões para enófilos! Saúde!

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Fotos: Raquel Polato e Gustavo Gaiarsa

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